sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A Colônia Nosso Lar


Muito se fala e se questiona sobre a vida após a morte, talvez pela necessidade ancestral do homem em saber se existe algum lugar para onde sua alma iria após a morte do corpo físico ou, simplesmente, a curiosidade natural sobre o desconhecido.
Uma das mais conhecidas comunicações sobre a vida após a morte surgiu nos relatos do espírito André Luiz ao médium Chico Xavier no livro Nosso Lar. Ele se refere à existência de uma cidade completa, no plano espiritual, além de uma região que ficou conhecida como Umbral. Esse plano espiritual se situa próxima à crosta terrestre, e nele o espírito continua possuindo as sensações físicas próprias da vida terrestre, como alterações de temperatura, fome, sede, dificuldade em respirar, etc. Ali é possível comer e beber como fazia quando era vivo.

André Luiz comunicou que, quando se encontrava no Umbral, sentia sono e tentava dormir, mas era acordado por seres monstruosos – “seres animalescos que passavam em bandos”, e que o acusavam de ter se suicidado, afirmação, a seu ver, incorreta, mas que, mais tarde, entendeu ter sua verdade, uma vez que o tempo que ele poderia ter vivido na Terra foi encurtado devido aos excessos que cometera aqui. Nesse lugar, André Luiz viu loucuras, risos exagerados, gritos desesperados e fez de tudo para sair dali. Vendo-se preso em um lugar sombrio, ele pediu ao “Supremo Autor da Natureza” – pois não era seguidor de qualquer religião em vida que o ajudasse. Assim, conseguiu enxergar entidades prontas para auxiliá-lo, contatando que a fé é uma manifestação divina do homem. Posteriormente, soube que existia cachorros e aves de corpos volumosos – pássaros devoradores de formas mentais perversas – que ajudavam no transporte dos espíritos para fora do Umbral.

André foi levado a um lugar muito parecido com os hospitais da Terra. Lá, foi acolhido. Pôde então entender que as vaidades da experiência humana mataram seu corpo físico, sendo, pois, considerado um suicida. Depois, ficou sabendo que o hospital onde estava era apenas um dos muitos que haviam naquele lugar, todos com a finalidade de tratar os males que as pessoas traziam de suas vidas anteriores, assim como curar as males causados por suas próprias ações na sua última vida.

André estava em Nosso Lar, uma espécie de cidade espiritual. Para a recuperação inicial de sua alma, após ter passado oito anos, segundo calendário da Terra, na escuridão do Umbral, ele é examinado por um médico e recebe caldos, água portadora de fluidos divinos e passes magnéticos. Tudo que é relatado é semelhante a uma vida absolutamente normal além da morte, porém, as vibrações do ambiente são outras. Há vibrações de paz e alegria por todos os lados, e a renovação das energias é feita essencialmente através da natureza.

Espaços regulares e ordenados, formas diversas, casinhas cercadas de muros de hera, parques, animais domésticos, e todos os lugares repletos de muito verde; assim é descrito o Nosso Lar. Há, ainda, grandes fábricas de preparação de sucos, de tecidos e artefatos em geral, que dão trabalho a mais de cem mil criaturas. A ordem dessa “zona de transição” procede do mundo superior, sendo coordenada por um governador. O governador, que em 1939 – ano em que André é acolhido em Nosso Lar – completava o 114° aniversário de sua direção, conta com mais de três mil funcionários na administrarão da Governadoria, tendo mais fieis ministérios. Os espíritos que habitam o Nosso Lar aprenderam a prática dá divisão das tarefas administrativas em “departamentos espirituais”, por meio de visitas aos serviços da Alvorada, uma das colônias espirituais mais importantes que os circuvizinham.

Cada ministério é auxiliado por doze ministros. O Ministério do Auxilio é responsável por atender os doentes, ouvir e selecionar as preces, preparar reencarnações terrenas, socorrer as almas que se encontram no Umbral e as que choram na Terra; os Ministérios da Regeneração, da Comunicação e do Esclarecimento entre outras coisas cuidam, respectivamente, de regeneração de almas, da comunicação de Nosso Lar com a Terra e com o plano superior, e do esclarecimento da vida. Os Ministérios da Elevação e o da União Divina possuem uma estreita ligação com o plano superior e realizam os serviços mais sublimes.
A governadoria se encontra no centro da praça principal dessa cidade espiritual e é a partir dela que estão distribuídos os outros seis ministérios, de forma triangular.

Segundo André Luiz, o Nosso Lar é apensa umas das muitas colônias espirituais existentes. Cada uma apresenta particularidades essenciais e permanecem em graus diferentes de ascensão, tal como aqui na Terra, onde há sociedades bem diferentes. Essa colônia, particularmente, é uma antiga fundação de portugueses desencarnados no Brasil no século 16. Esses portugueses se tornaram missionários da criação do Nosso Lar.

A água utilizada ali – tanto como o alimento quanto como remédio – vem do Bosque da Águas; ela é mais tênue e pura que a da Terra, quase fluida, pois a densidade é diferente. Sua magnetização e distribuição são feitas pelo Ministério da União Divina, sendo essa atividade um dos únicos serviços materiais exercidos por ele. Há também os Serviço de Trânsito e de Transporte, que age como o serviço de trânsito daqui da Terra, porém, com um meio de transporte muito diferente: o aerobus, que é um grande carro aéreo, suspenso do solo a uma altura de mais ou menos cinco metros, e que pode transportar muitos passageiros com grande velocidade. Segundo André, ele é constituído de material muito flexível, é bastante extenso e parece estar ligado a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas que se localizam na parte de cima.

Há também lugares reservados para a educação, estudos e conferências; são os chamados “salões verdes”. Eles se localizam nos parques do Ministério do Esclarecimento, dentro de um castelo de vegetação em forma de estrela. Os moradores do Nosso Lar acreditam que os estudos formam a base justa para a resolução de problemas e que, com os espíritos reunidos, compartilhando opiniões e experiências, são capazes de tomar decisões sem se converterem a opiniões pessoais.

O lar na Terra é muito semelhante ao do Nosso Lar, ou melhor, como é dito a André: “o lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar esse instituto doméstico”. Porem, os casais terrestres muitas vezes se deixam ser invadidos pelo ciúme, pelo egoísmo e pelas vaidades pessoais, deixando para trás o sentido real do lar. O casamento espiritual é realizado através da combinação vibratória, da afinidade máxima, não uma união que vai se desgastando com o tempo, como ocorre muitas vezes na Terra. O Nosso Lar defende o equilíbrio através do amor e, a partir desse sentimento, homens, e mulheres realizam suas funções e compartilham experiências.

O trabalho nessa cidade é tal qual na Terra. Existe uma jornada de trabalho, com descanso obrigatório. O pagamento, evidentemente, não é nada material como em nosso mundo, mas uma espécie de experiência em determinadas áreas, o que auxilia no crescimento do espírito; ganha-se também o bônus-hora. O bônus-hora é uma ficha de serviço individual e funciona como valor aquisitivo. A produção de vestuário e alimentação pertence a todos em comum, assim como engrandecimento do patrimônio; os que trabalham adquirem direitos justos, o que lhes permite escolher o que querem usar e aonde querem ir. A propriedade é relativa, e sua aquisição é feita à base de horas de trabalho. As construções representam patrimônio comum nessa cidade, sob controle da Governadoria. Cada família espiritual pode adquirir somente um lar, apresentando 30 mil bônus-hora, o que pode ser conseguido com algum tempo de trabalho.

Os trabalhos manuais, pesados ou com sacrifícios de pessoas têm seu reconhecimento multiplicado, diferentemente da Terra. André é informado que, muitas vezes, os milionários terrenos são mendigos de alma, pois o verdadeiro ganho para as criaturas é de natureza espiritual. Os bônus-hora podem ser gastos, porém no Nosso Lar é mais valioso o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que confere aos trabalhadores o direito a títulos preciosos; quanto maior for esse número, mais intercessões poderão ser feitas por essa criatura em relação à elevação e defesa da alma. A herança nessa cidade é apensa a do lar, nunca a de bônus-hora.

Nessa cidade espiritual também existe uma seção de arquivos onde estão guardadas anotações particulares de cada um – as lembranças. Conforme o espírito desenvolve segurança em si mesmo, são permitidas as lembranças de outras vidas. André é avisado de que essas lembranças apenas informam, sendo necessário, para o conhecimento profundo de seu espírito, muita meditação e passes no cérebro, que ajudariam a despertar energias adormecidas.

Segundo os moradores da colônia espiritual, quando desencarnados, os espíritos que não tiveram uma preparação religiosa no mundo sofrem dolorosas perturbações, como as que André sofrera nos primeiros anos após a morte de seu corpo físico. Eles ficam presos no Umbral, separados dos homens encarnados pelas leis vibratórias; lá, espíritos semelhantes se agrupam conforme o tipo de vibrações que vivenciam. Em Nosso Lar, os espíritos são capazes de se reconhecer e se encontrar. André se encontrou algumas vezes com sua mãe, que continuava intercedendo por ele; reconheceu um homem a quem seu pai prejudicara e teve a oportunidade de pedir perdão; viu uma mulher que fora empregada de sua casa, acabou na vida de prostituição e agora experimentava muito sofrimento e dor. Ele, também, ainda sentia saudade da família terrena, pois, como lhe foi explicado, cada organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.

Muitas vezes, os que perdem um ente querido, na Terra, permanecem com seu pensamento focalizado nesses entes, de forma que acabam prejudicando sua evolução e fazendo-os sofrer com as lembranças. Assim, a esses encarnados são conferidas outras preocupações, para que deixem de pensar no espírito que já desencarnou.

André relata a existência de regiões ainda inferiores ao Umbral: as Trevas. Para lá vão as almas que fecham sua percepção, focando apenas em si mesmas, deixando de lado a visão e a compreensão do Deus único, estacionando no tempo e “sobrevivendo” em um sono de longos anos, vivendo apenas com as recapitulações de experiências vividas. Ele também fala sobre a existência de fantasmas. Estes são “irmãos da Terra, poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente por lá”. Eles se diferenciam dos espíritos já desencarnados pelos filamentos pendidos dos braços e um fio da cabeça, e “sobem” ao Nosso Lar em missões secretas.

No mundo todo, nas mais diversas épocas, surgiram inúmeros relatos de cidades que se situariam no mundo espiritual, ou numa dimensão paralela, como preferem alguns pesquisadores. No entanto, poucos são tão ricos e impressionantes em detalhes quanto o de André Luiz.


Fonte: Revista Espiritismo e Ciência

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